7 de novembro de 2011

A lógica do consumo na política


Por: Túlio Madson
Toda liderança política torna-se logo um produto, nas votações escolhemos personagens, votamos em uma imagem, não em uma ideia.
As pessoas precisam menos dessas figuras e mais de conscientização, ao invés de dirigentes, lideranças e salvadores da pátria, precisamos formar cidadãos críticos, aptos a participar e a contribuir ativamente das decisões do governo.
Precisamos da conscientização, por exemplo, de que essas figuras resultam de campanhas eleitorais milionárias, cujos patrocinadores não são tão altruístas quanto à imagem que fazem de si.
Hoje em dia tenta-se pôr em evidência a imagem de que os políticos são os responsáveis pela corrupção, eximindo assim a culpa do modelo que os corrompem: os mais diversos e conflitantes interesses econômicos sobrevalorizados de tal forma que confundem-se com o público.
Entramos assim na questão central: a lógica de consumo só é institucionalmente respaldada com sua validação no meio político. Assim, esses mesmos interesses transformam as campanhas políticas em campanhas publicitárias, o político torna-se um produto, desse modo, alguns consomem Dilma, outros Aécio, outros Marina, tantos outros ainda, tiriricas, romários  e schwarzenegger´s. Essa é a participação política que nos cabe, escolher dentre esses perfis o que mais se identifica conosco.
Os políticos tornam-se assim meros intermediários entre os interesses corporativos e os da população, quando na verdade deveriam se ater apenas aos interesses de seus eleitores,  não de seus financiadores. O povo - demos - não participa das decisões públicas, espera apenas que algum político decida por ele – ou seja possuem apenas uma esperança. Em teoria é como se elegêssemos consultores políticos hábeis a concretizar nossos interesses, mas na prática escolhemos apenas a melhor campanha publicitária, o personagem criado pela propaganda eleitoral que mais nos representa.
Vivemos muito próximo a uma corporocracia – corporatocracy – tal como entendia George Monbiot, propagador do Global Justice Movement. Monbiot aponta uma terceira via entre o capitalismo e o socialismo, denominando-a de Global Justice, um sistema político que realmente promova a participação direta do cidadão nas decisões públicas.
Durante a Guerra do Peloponeso em Atenas, berço da democracia, foi instituído um pagamento aos cidadãos mais pobres para que estes comparecessem em peso nas assembleias, local onde eram discutidas e votadas as decisões públicas. Ou seja, o conhecimento era algo realmente difundido e compartilhado na cidade, de modo tal, que até o cidadão mais pobre competia em pé de igualdade em termo de conhecimento com qualquer aristocrata. Não esqueçamos que Sócrates era pobre e que Diógenes vivia em um barril. A cidade então precisava pagar uma quantia – para restituir o dia de trabalho perdido – apenas para ouvi-los, para que pudessem contribuir, porque suas opiniões e seu voto eram de fato importantes.
Um estado justo é aquele que democratiza o conhecimento, justiça social é distribuir conhecimento não apenas renda. Esse deveria ser um projeto de estado, não de governo, independente de Partido A ou B, deveria ser um anseio da nação. Aqueles que detêm o conhecimento são os que mais têm responsabilidade nisso, deveriam descer do trono acadêmico e de fato compartilhar seu conhecimento com a sociedade.
Quando chegarmos ao ponto em que se precise pagar a um cidadão pobre para que ele discuta e participe das ações e decisões da cidade. Teremos chegado em algo próximo daquilo que os gregos chamavam de democracia.

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