Durante meus dois mandatos como vereador, optei por não adotar duas práticas: a concessão do título de cidadão cruzetense e o envio de moções de pesar a familiares de cidadãos falecidos.
A Câmara Municipal de Cruzeta promoveu, por anos, uma cerimônia de entrega de títulos, na qual cada vereador indicava um número determinado de homenageados. Embora o evento envolvesse diferentes perfis sociais, ele tinha um caráter elitizado, muitas vezes cercado de "glamour," o que gerava críticas quanto aos gastos públicos e à escolha dos agraciados. Afinal, um título deveria reconhecer contribuições significativas para a comunidade, como o trabalho de um médico ou de um professor, e não ser apenas uma formalidade política.
Foi essa percepção que me levou a não conceder títulos. Acredito que o reconhecimento deve ser legítimo, não uma moeda de troca. Durante a presidência de Mônica Medeiros, foi decidido, em consenso, que os vereadores continuariam concedendo títulos, mas arcando com os custos das recepções. O resultado? A emissão caiu drasticamente. Anos depois, a festividade foi retomada, mas um episódio constrangedor durante uma fala na cerimônia desmotivou sua continuidade. Fui o único vereador a não comparecer ao evento, mantendo minhas convicções.
Curiosamente, anos atrás, fui indicado para receber o título de cidadão cruzetense por ter nascido em Currais Novos/RN, mas declinei o gesto. Para mim, ser cruzetense vai além de um documento — é um sentimento e uma identidade construída na vivência diária.
Quanto às moções de pesar, no início eu as concedia, mas logo percebi que o verdadeiro respeito às famílias enlutadas não precisava de um documento formal. Bastava usar a tribuna para prestar uma homenagem sincera. Em um episódio marcante, quando um servidor foi entregar uma moção, a filha do homenageado perguntou, com ironia: “A Câmara não tem nada mais importante para tratar?”
Em uma análise da produção legislativa de um ano, percebi que a maioria dos documentos emitidos eram moções de pesar. Esse dado reforçou minha convicção de que o Legislativo deve focar em ações concretas, que tragam benefícios reais à população.
Talvez seja o momento de a Câmara repensar a forma como concede o título de cidadão cruzetense. Em vez de permitir que cada vereador indique vários nomes, seria interessante adotar uma abordagem mais criteriosa, limitando o número de homenageados com base na real relevância de suas contribuições para a comunidade. A presidência poderia liderar esse processo, mantendo a tradição ao solicitar indicações de nomes e concedendo o título de forma coletiva, em uma sessão solene, como ocorre com a Comenda Pedro Vital.
Quanto às moções de pesar, acredito que a Câmara poderia estabelecer uma distinção mais clara. Cada vereador poderia continuar enviando moções individualmente, mas, do ponto de vista institucional, talvez fosse mais adequado que a presidência adotasse critérios objetivos para homenagear, de maneira formal, cidadãos de maior relevância. Isso poderia incluir, por exemplo, uma mensagem lida na celebração fúnebre e o envio de uma coroa de flores em nome da Casa, preservando a tradição sem transformar a prática em um mero procedimento burocrático. Essa iniciativa, aliás, já ocorreu de forma esporádica.
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